A crise econômica atingiu as nuvens e voar voltou a ser privilégio de poucos. Quem estava acostumado a fazer três a quatro viagens de avião por ano está reduzindo a frequência e muitos passageiros começam a trocar os aeroportos pelas rodoviárias. O maranhense Bruno Torres, de 21 anos, cozinheiro em Ribeirão Preto, deixou para comprar a passagem aérea em cima da hora e acabou tendo que viajar de ônibus. Com a decisão de economizar, perdeu cinco dias das férias, período em que ficou na estrada, entre ida e volta, para percorrer os 2,7 mil quilômetros que separam o local de trabalho da terra natal.
Na volta de São Luís do Maranhão para a cidade paulista, Bruno parou na rodoviária interestadual de Brasília. “A viagem dura dois dias e meio e é bem desconfortável”, conta. Na viagem em ônibus, ele gastou um terço do que pagaria pela passagem aérea. “Não procurei com antecedência e o menor valor que achei foi de R$ 1,2 mil por ida e volta. Ficaria sem dinheiro para as férias, então preferi perder alguns dias na estrada para gastar R$ 400 de ônibus”, conta.
Assim como Bruno, 3,7 milhões de pessoas deixaram de voar neste ano. Dados da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear) apontam que o fluxo de passageiros caiu 8% entre o primeiro semestre do ano passado e igual período de 2016, de 46,9 milhões para 43,3 milhões, no país. Os números são a compilação das estatísticas das companhias Avianca, Azul, Gol e Latam, responsáveis por 99% do mercado doméstico. A demanda completou, em junho, 11 meses de retração. De janeiro a junho, a procura por passagens aéreas caiu 6,6% em relação ao primeiro semestre de 2015.
Com o agravamento da crise da economia, passou a valer o esforço para economizar qualquer quantia. A administradora Josélia Lima, de 61, passou alguns dias no Rio de Janeiro e na volta preferiu pagar R$ 368 pela passagem de ônibus do que mais de R$ 800 pelo trecho aéreo. “Viajo bastante de avião, mas sempre pesquisando as promoções e comprando com antecedência. Como, desta vez, foi uma decisão de última hora, os preços estavam muito altos. A viagem de ônibus, apesar das 20 horas de distância, foi muito tranquila”, conta.
A discussão sobre a abertura do capital no setor aéreo está no Congresso e é considerada importante do ponto de vista de alternativas para melhorar as condições financeiras das companhias aéreas nacionais, endividadas e obrigadas a adequar a malha à menor demanda. O presidente da Abear, Eduardo Sanovicz, explica que, além do ajuste, as empresas aumentaram o aproveitamento das aeronaves.
“No ano passado, tivemos queda de 48% do número de passageiros corporativos, que representam dois terços do total e cuja tarifa média é mais alta porque a compra é realizada em cima da hora”, justifica. “A saída das companhias é cortar custos”, emenda.Foi o que três das quatro principais empresas fizeram.
Apenas a Avianca garante que “mantém estável” a sua oferta de voos. A Gol anunciou ajustes. “Dentre as mudanças estão a adição de novas rotas, redução de 15% a 18% no número de decolagens, suspensão de voos e alterações de horário”, informa a empresa, por meio da assessoria. No mercado internacional, a companhia fortaleceu as conexões da região Nordeste com a capital argentina e inaugurou a rota Recife-Montevidéu.
A Azul cortou 7% de sua oferta de assentos e retirou de sua frota cerca de 20 aeronaves. “A malha aérea da companhia também foi revisitada. Alguns ajustes foram realizados, reduzindo frequências em alguns mercados e ampliando em outros, com efeito positivo na eficiência da companhia”, diz a assessoria de imprensa da Azul. A companhia informa, ainda, observar as oportunidades de mercado. “Inauguramos quatro novos destinos, dois nacionais e dois internacionais. Mais três destinos domésticos devem entrar em operação até o fim do ano”, promete.
O Grupo Latam, segue conservador na oferta de voos domésticos no Brasil em 2016 e projeta para este ano redução de 10% a 12%. “Esses ajustes se somam a outras adequações realizadas recentemente pela companhia para adequar a sua malha aérea e enfrentar o contexto macroeconômico desafiador no Brasil”, afirma a empresa.
No mercado internacional, a companhia detém mais de 80% de participação e prevê redução de 35% na oferta de voos para os Estados Unidos no segundo semestre. “O contexto macroeconômico segue altamente complexo e volátil, com profundos impactos no setor aéreo, como a alta de custos e a retração da demanda”, informa, por meio da assessoria de imprensa.
Fonte: Correio Braziliense