O crescimento do número de pessoas que usam aviões elevou também as ocorrências de urgências médicas e de mortes durante viagens. Essa é a conclusão de um estudo feito pelo Conselho Federal de Medicina e pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, que elaboraram a Cartilha de Medicina Aeroespacial.
De acordo com o guia, mais pessoas idosas e portadoras de doenças crônicas estão ganhando os céus, o que exige ações mais urgentes da tripulação e cuidados de quem vai viajar. Segundo especialistas em emergência aeronáutica, males relacionados à pressão externa ou ao estresse estão sujeitos aos efeitos da pressurização da aeronave. Quadros subagudos que em terra são clinicamente estáveis também podem tornar-se graves com a pressurização, e a principal recomendação é estar sempre em dia com o atendimento médico e controle da medicação.
Segundo a cartilha, viajar em aviões pressurizados não deveria ser causa de problemas para a saúde. Ao viajar a 2,4 mil metros de altura, o que proporciona conforto aos passageiros, os efeitos da adaptação são pouco percebidos por pessoas saudáveis nas viagens de curta duração, mas portadores de doenças crônicas ou em recuperação de quadros agudos podem experimentar algum grau de desconforto.
Segundo os médicos que elaboraram a cartilha, até o estresse resultante do somatório do ambiente do voo, aeroporto e avião pode afetar a pressão arterial. Quem precisa de cuidados especiais também deve se preparar antecipadamente. “Solicitar dieta hipossódica com antecedência; chegar cedo ao local de embarque. Em caso de medo de voar, procurar um médico antes. Em caso de crise hipertensiva, aguardar de três a quatro dias para voar”, são algumas das dicas da cartilha. Um conselho para quem tem doença cardiovascular é sempre verificar se há medicação suficiente para toda a viagem, devendo levá-la na bagagem de mão. Junto, é recomendável manter um eletrocardiograma recente.
RESPIRAÇÃO DIFÍCIL
De acordo com o estudo, a asma brônquica é a doença respiratória mais comum entre passageiros de avião. Nos casos mais graves, instáveis e que exigem hospitalização, a viagem não deve ser feita de forma alguma. “Os asmáticos devem sempre levar na bagagem de mão seus medicamentos, principalmente broncodilatadores (bombinhas)”, alerta o guia médico. Quem sofre de bronquite crônica e enfisema pulmonar tem a capacidade de oxigenação do sangue reduzida, o que piora durante o voo. “Por isso, esses viajantes devem buscar orientação médica especializada para realizar testes que verificam a necessidade de suporte de oxigênio durante o voo”, recomendam os autores do guia. A cartilha ainda traz informações sobre pneumonias e outras infecções contagiosas, doenças na garganta, nariz e ouvido e quadros gastrointestinais.
Bula de voo
Recomendações de saúde para quem vai viajar de avião
» O estresse resultante do somatório do ambiente de aeroporto, voo e avião pode influir na pressão arterial. A recomendação é de que o passageiro somente embarque com pressão normal e estável
» Em caso de crise hipertensiva, deve-se aguardar de três a quatro dias para voar
» Pacientes com angina (dor no peito) instável não devem viajar, assim como portadores de taquicardia ventricular ou supraventricular não controlada
» A viagem é contraindicada para quem tem insuficiência cardíaca grave e descompensada. Se a doença é moderada, o paciente deve verificar com seu médico a necessidade de suporte de oxigênio
» A empresa aérea deve ser avisada sobre necessidades especiais de alimentação, suporte de oxigênio ou uso de cadeira de rodas
» Quem sofre infarto não complicado deve esperar de duas a três semanas para voar. Em casos mais complexos, o prazo de segurança é de seis semanas
» Pacientes submetidos a cirurgia de revascularização miocárdica devem esperar pelo menos duas semanas antes de viagens aéreas
» Em caso de doença cardiovascular, deve-se verificar se há medicação suficiente para toda a viagem e levá-la na bagagem de mão, com um eletrocardiograma recente
» É preciso manter o uso e o horário das medicações, e é recomendável evitar bebida alcoólica e café antes e durante a viagem
» Em caso de acidente vascular cerebral (AVC), conhecido como derrame, deve-se considerar o estado geral do passageiro antes do embarque
» No caso de um AVC isquêmico pequeno, por exemplo, é preciso aguardar de quatro a cinco dias para viajar. Em caso de AVC hemorrágico operado, o tempo de espera é de 14 dias
» Pessoas que sofreram traumatismo craniano ou qualquer procedimento neurocirúrgico podem ter aumento da pressão intrancraniana durante o voo
» Asmáticos devem sempre levar na bagagem de mão seus medicamentos, principalmente broncodilatadores (bombinhas)
» Portadores de distúrbios psiquiátricos de comportamento imprevisível, agressivo ou não seguro, segundo os médicos, não devem viajar de avião. Podem voar aqueles com distúrbios psicóticos estáveis com o uso de medicamentos, desde que acompanhados
por um responsável
» Epiléticos podem voar seguramente, desde que estejam usando a medicação, e de 24 a 48 horas depois da última crise
» O uso de marca-passos e desfibriladores implantáveis não contraindica o voo
Fonte: Cartilha de Medicina Aeroespacial